segunda-feira, 18 de abril de 2016

Sem malícia
Lá no Careiro da Várzea, o transporte escolar, era feito de barco (clarooo). Pelo menos nas margens direita e esquerda...e no Cambixe também! Todo começo de ano era aquela muvuca, pra saber se haveria transporte fornecido pela prefeitura, ou se os pais teriam que arcar com as despesas.
Creio que foi em 88, que o ano letivo começou complicado. Ninguém sabia se haveria ou não o transporte...e assim mesmo nos arrumamos (eu, primos Francimar, Gerdilane e os vizinhos) pra estarmos a postos. Não teve barco naquele dia. Frustrante! A ansiedade era pra reencontrar os colegas do ano anterior. As férias eram mais longas.... parece. No dia seguinte, papai me instruiu a ir até a casa do sr. Luis (da Val. Sua esposa se chamava Val, e por isso o nome), pois ele tinha 3 filhos em idade escolar, e tinha uma canoa com um motorzinho, e jamais deixaria os filhos (Inês, Izete e Caçula, morenos, organizados e engomadinhos, que até me sentia desorganizada só de olhar pra eles. Todos nerds) faltarem sequer um dia de aula.Dito e feito! Eu e a galera (já citada acima), fomos e acertamos com sr. Luis um valor pra irmos e voltarmos com ele e suas crias engomadinhas. Era tudo muito organizado. Não podia falar alto nem fazer nenhuma espécie de bagunça na embarcação. Me senti engaiolada, apesar da canoa não ter nenhuma parede além do teto improvisado de lona azul.
Ao chegarmos na Vila, e atracarmos no flutuante do sr. Carlinhos (figura vesga e avantajada, cujo comércio exorbitava os valores das mercadorias), o nosso "comandante" nos instruiu a descermos um de cada vez, para não arranhar a pintura nova da canoa (!!!!). Pensei: como pode esses meninos dele viverem nesse controle absurdo?! Aí lembrei que eles eram meros robôs!
Subi o barranco feliz da vida! Respirando ares de um ano letivo cheio de altos e baixos. Muito barulho..muita gritaria..muita tensão..muito tudo! A tarde passou como todas as outras...com o acrescimo de reencontrar o povo todo depois de longos dois meses de férias.
A volta pra casa seguiu tranquila (na medida do possivel, já que parte do prazer de ir e vir da escola. era a zueira dentro do barco, e naquele caso especifico, não haveria por culpa do "comandante").
Quando lembro de olhar em direção à Manaus, lembro do sol imenso e vermelho, deixando o céu cor de rosa, e a água do Solimões meio dourada...ai ai...depois de uma tarde de aulas, e o controle absurdo do comandante, só aquilo pra me trazer esperança pro dia seguinte.
Descemos da canoa com medo até de respirar e descascar com nosso bafo, a tinta azul brilhante da canoa (indigna). Subimos o barranco...e teriamos que andar pelo menos 1km e meio até nossos lares. Começamos a caminhada, e iamos nos aproximando da casa do Alberto (50 e poucos anos, moreno, voz cavernosa, e gostava de pinga do café até a janta), onde a poucos dias, um senhor (Chico Perez, idade indefinida, voz quase inaldivel devido algum problema nas cordas vocais, que bebia 24hs por dia, no dia que parou, morreu!) muito meu conhecido, havia morrido de forma um tanto quanto trágica. Emanuel (branco, cabelos pretos, alto demais, e metido a palhaço), lembra do causo da morte, bem quando estávamos chegando no terreno da casa "mal assombrada". Ele e Reginaldo (branco, banguela, e de cabelos falhos e que se achava um galã de cinema) resolveram apavorar a mulherada que vinha logo atrás.
Se esconderam em meio ao cacoau, e quando íamos passando, pularam gritando e roncando feito porco. Foi uma debanda geral. Eu sempre tive problemas pra reagir em meio à pressão. Simplesmente o caos se instaurou. Tentamos nos juntar, e ao mesmo tempo nos atrapalhamos e caimos. Eu caí no barranco. Senhores..o barranco era um maliçal só! Malícia é uma planta que tem uma regra, dizer: maliça teu pai morreu! ai dava um leve toque e a planta ia se fechando.
Eu só descobri naquele dia, que além de sentir tristeza, ela também era temperamental e sabia se defender. Tinha uns espinhos curvos na ponta, que ai cair de cara, fiquei com o rosto cheio de espinhos. Dor e humilhação me dominaram...mas o medo de permanecer naquele lugar sinistro me fez correr (nunca fui boa em correr. Pareço um polvo tentando me equilibrar em terra firme) para longe. A dor só foi de fato sentida, quando cheguei em casa. Entrei no flutuante, com tantos espinhos no rosto, que papai deve ter achado que a filha havia criado barba e bigode na hora da aula. Fui pro espelho (tinha no máximo 20x15 de tamanho), já antevendo o estrago! Chorei de imaginar as marcas que estariam no outro dia. As comparações que seriam feitas na escola...e sofri por atecipação....claro. Senão, não seria eu.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Shernobill...a catástrofe do 227

Bom, eu recomendo que, se você, caro leitor, tem estômago fraco, não prossiga a leitura.
Houve uma época, em que eu trabalhei em uma floricultura, na Rua Joaquim Nabuco (Jardim e Decorações), em frente à funerária Almir Neves. Eu até que aprendi a gostar, da loucura que era aquilo lá! Um dia (não lembro qual), saí mais cedo (não sei porquê), e me dirigi à parada de ônibus, que fica no cruzamento da Ramos Ferreira, com a Getúlio Vargas. Sempre ficava ansiosa com a espera...por conta dos "larápios", que são fartura por ali. Até, que avistei meu tão esperado 227 (Alvorada/D. Batista). Fiquei feliz, só de imaginar, que haveria um lugar pra sentar. Entrei...e ....não havia mais lugar vazio!!! Aliás...estava bem cheio o coletivo (que novidade em Manaus)! Ok...mas o que importa, é que eu iria pra casa. Abro um pequeno espaço, para dizer que, mudarei os nomes das pessoas aqui citadas, para preservar suas identidades. Poxa vida...quando avancei um pouco mais pro meio do coletivo, "dei de cara" com um amigo (bem amigo mesmo), que vou chamar de M. M é um ser humano ímpar! Extremamente camarada, ótimo marido, filho, irmão, amigo..enfim! Quando me viu, foi logo me convidando a sentar em seu lugar, que ele gentilmente me cedeu...e eu desavergonhadamente, aceitei! Joguei-me na cadeira, como se fizesse milênios que não sentava. Travamos uma conversa de amenidades (parece até que não nos víamos a anos)...e o ônibus, lotou ainda mais. Lembra do ônibus com ar condicionado?! Era aquele. Antes de chegarmos no cruzamento da Getúlio com a Joaquim (posto de gasolina)...um...ser infeliz, que devia ter comido repolho estragado, durante um mês inteiro, sem interrupção, libera os "gases venenosos"...bem ali., covardemente.... em um ônibus totalmente lacrado (as janelas eram travadas). Senhores...como eu gostaria (Deusmelivreguarde!) de poder descrever o que foi aquilo...Mas vou tentar. O mau cheiro (que faria o caminhão do lixo parecer Channel 5) foi tomando conta de cada centímetro do lugar...cada  passageiro foi gemendo (literalmente), tossindo, esfregando os olhos e nariz..até que começaram os cometários! "Motorista pelo amor de Deus! Pare o ônibus que alguém c....u!" entre outros ainda mais cabeludos, que eu nem tenho coragem de verbalizar! Olhei pra uma moça, logo a minha frente (morena clara, cabelos lisos e finos), e a pobre estava ficando pálida. Achei que ela iria desmaiar. O ônibus virou um pardieiro..uma algazarra a qual, ninguém entendia ninguém. E o pior de tudo, é que o fedor, impressionantemente, não ia embora!!! Abre porta pra descer passageiros (que desciam muito antes de seus destinos coitados), fecha porta (o povo gritava enlouquecido)...aí o motorista, lá pela Djalma, desistiu de fechar a porta, que era pra ver se ventilava, mas, parece que o "negócio" havia grudado nas paredes do coletivo. Nessas alturas, eu estourava de tanto rir (fico assim quando estou nervosa), incontrolavelmente! Olhei pro M, e ele estava impassível..e aí que eu ria mesmo! Bom, fiquei imaginando, que o povo andava pensando que eu era a autora do "crime" (gordo, velho, menino e cachorro, são sempre os autores) e a crise de riso aumentava! Elogiei meu amigo, por sua postura calma, tranquila e serena diante daquela catástrofe! Ele apenas deu um leve sorriso, que eu julguei ser orgulho. Estávamos em frente ao SPA, onde tem uma parada, a galera grita "desce cagão! Vai se tratar!". Tive outra crise de riso incontrolável...pois a nossa seria a próxima parada. Descemos...e eu com a barriga doendo, cheirei a roupa pra ver se não havia ficado resíduos (meu faro estava falho devido a situação). Descemos a rua meio apáticos, olhos e nariz ardendo...o cheiro tinha afetado de certa forma, nossa coordenação motora..acho. Entramos em casa, e fui logo contando a situação vexatória, pela qual havíamos passado (quando o riso deixava). Ao fim da história, a esposa de M, olha pro marido e solta: Foi tu, não foi M!!! Saí logo em apoio ao M! Como ela podia suspeitar do marido dela, quando haviam mais 100 suspeitos?! Nãoooo! Ele jamais faria isso (aquilo). Ambos se retiraram pro quarto...e 15 minutos depois, ela sai, com um olhar triunfante: Eu não disse que tinha sido ele?! Ai queridos! Eu quis matar o cidadão traidor! Como alguém podia ser tão covarde daquele jeito?! Ele era responsável por um quase genocídio!!! Olhei o mais sério que pude pra ele, e perguntei: Pelo amor de Deus...porque tu fizeste isso?! E ele..com seu olhar de cachorro que caiu da mudança, me responde: Oras! Não mandei me apertarem! Ai que vontade que deu, de torcer o pescoço do M! Mas, imaginei, que se um leve apertão, havia causado "aquele" caos; imagina se apertasse muito! Iria devastar o quarteirão! Fiz o que tinha que fazer: me postei em sua frente, apertei as mãos (como em oração), me curvei, e disse: MESTRE! Senhores, muitos anos se passaram desde aquele fatídico dia, mas não posso esquecer. Lamentar pela sra. M. Coitada! Ela merece um troféu por suportar o sr. M!
Desde então, quando ia pegar o ônibus, sempre tinha o cuidado de ver se ele não estava no mesmo coletivo....se tivesse, eu desceria, e concluiria o percurso a pé...com muito prazer.
Daí o apelido de Shernobill...que acho que faz muito jus a ele!..rssss (ainda rindo até agora)

Não julgue um livro pela capa

Em 80, foi o ano que fomos morar, de fato e de verdade, no Careiro. Havíamos morado os 3 anos anteriores em Manaus, com tio Mário Bezerra (filho da prima do meu pai). Pra mim, foi um ano memorável! Lembro até hoje, o dia em que minha mãe foi fazer a matrícula "das meninas" (eu e minha irmã). Como eu era pequena, tudo parecia grande e lindo. E como sempre, darei aquela paradinha, pra descrever, o que e como era a Vila do Careiro a época: 3 ruas; A principal, de onde desembocava a escadaria principal da "cidade", que levava diretamente à igreja Católica (me perdoem os amigos católicos, mas não lembro qual o nome da santa, da qual a igreja leva o nome); por trás ficava a escola e a extinta TELAMAZON, do lado esquerdo o Banco do Brasil e Correios e do lado direito, a extinta COSAMA., a sede do Careiro Esporte, e bem no centro de tudo, aquilo que deveria ser uma praça (parecia um campo de gado...só que sem capim). Minha mãe toda orgulhosa, me levava (exibia, mais exatamente) pela mão, e a cada 10 passos, parávamos pra ela me apresentar a alguém. Eu extremamente tímida (até hoje...sina), dizia bom dia, ou tomava benção (era assim no passado), olhando pro pé. E assim fomos andando e parando, até chegarmos na escola. Paramos bem na frente do mastro das bandeiras do Amazonas e do Brasil, onde logo acima, estava a placa com o nome da escola: Escola Coronel Fiúza (na época, não tinha estadual não) e esperamos o sêu Russo (não sei até hoje se era nome ou apelido), abrir o portão. Ainda nem havíamos entrado, quando ouvimos (até hoje retine aquela voz em meu ouvido) Dn. Maria José falar alto (como se não pudéssemos ouvi-la): Escute Áurea (a melhor professora de matemática do mundo), aquilo é a Maria que tá entrando? Mamãe nunca soube disfarçar seus sentimentos, e arregalou os olhos (azul piscina...morra de inveja Maria José!!!!), já elaborando uma resposta, como se a pergunta tivesse sido pra ela.  Mas ...na última hora, mordeu o lábio inferior, e se conteve (muito  a contra gosto). Deu bom dia, e foi logo me empurrando pra perto da diretora (aff! quase senti cheiro de enxofre). Não levantei a cabeça pra olha-la...mas ela se encarregou de fazê-lo. Pegou meu queixo e suspendeu; olhou nos meus olhos (queria ter a visão desintegradora), e quase com desprezo, disse que era bonitinha. Ódio cruel me foi plantado na alma, por aquela .......cidadã brasileira. Consegui, mesmo criança, ler desprezo por mim e minha família, nos olhos e atitudes dela. Passado primeiro momento tenso, mamãe começou a dar as informações necessárias, pra matrícula, das meninas...e eu, curiosa pra conhecer a escola. Minha irmã faria a 3a e eu a 1a série. A professora dela, estava na escola naquele momento, e fomos vê-la na sala de aula...assim, aproveitei pra matar a curiosidade de conhecer previamente, minha escola querida (ai ai). Entramos na sala, e uma moça esbelta, jovem, branca, de olhos expressivos, nariz sardento, e cabelos ruivos encaracolados, levantou a cabeça pra ver quem entrava.  sorriu. Iluminou a sala. Disse: me chamo Ariadne. Me encantei com ela! Achei ela a personificação dos meus sonhos de aluna. Como todo irmão que se preze, eu interiormente, queria as melhores coisas pra mim...então achei que, se a dela era linda, a minha deveria ser ainda mais (ela não estava na escola naquele dia)! Cheguei a salivar de emoção!
Fomos embora pra casa, onde contei pra minha irmã, tudo que havia acontecido. Como eu odiei a diretora, ela já até se via virando melhor amiga da talsinha (kkkkkkkk)...e eu, ansiando pelo primeiro dia de aula, só pra esfregar na cara dela, a minha professora, mais linda que a dela. Chegou o grande dia! Jaleco branco, saia de pregas azul tergal (herdada da prima Ariane), meias soquetes e a afamada conga nos pés!....No barco da escola (Amora Filho), todos nos olhavam como se fossemos ETs. Minha timidez alcançou o ponto alto senhores! Tive que ter muito alto controle, pra subir no barco, inves de me jogar na água, e morrer! De relance, olhei ao redor (curiosidade vence timidez), e vi umas moças morenas, (Lígia, Rubenita...e outras que não lembro o nome) cabelos longos até a altura da cintura, olhos risonhos, que nos olhavam com ares amigáveis (ou seria dó?).  Subimos as escadarias da vila, e rumamos pra escola. Nunca senti tanto desejo  de voltar pra casa na vida, como naquele momento. Apesar de estar de cabeça baixa (o queixo encostava no tórax), eu sentia, que por onde passávamos, todos nos olhavam....medo absurdo!!! Ok. Chegou o grande momento, que esperei ansiosamente: esfregar minha bela professora na cara da minha irmã, e imaginá-la arrasada por isso. Entramos na escola, e esperamos as respectivas professoras. Senhores...foi nessa hora, que meu céu "fechou o tempo"...vi uma senhora, ainda jovem, magrinha, cabelo curtíssimo, dentes afastados, voz sibilada (parecia a Celeste do Castelo Rá-Ti-Bum), morena....parar na minha frente e perguntar: Então...você é a novata.?! Sou a professora Concebida. Sua professora....Quis morrer pela segunda vez naquele dia! Nem tive coragem de olhar pra minha irmã...pois já imaginava seu sorriso irônico, que sem palavras me diria: realmente...liiiindaaa tua professora!!! As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, de forma descontrolada e incontida. Fui humilhada. Pensei: tenho certeza que a diretora escolheu a professora mais feia, só porque sabia que eu iria estudar na 1a série! kkkkkkk....nos anos seguintes, a professora "feia" e eu, nos tornamos amigas..se é que se pode chamar de amizade a relação aluna/professora. E ela, ainda me aperreando por tê-la rejeitado. Eu, se pudesse voltar no tempo, e escolher, não trocaria. Ela era o máximo!

domingo, 22 de dezembro de 2013

Rastapé

Morar no interior (não sei se todo lugar é assim), não é um marasmo como o povo da cidade pensa. Na verdade, pouco se sobra de tempo, pra ficar sem fazer nada. Isso, na minha época, a uns 25 anos atrás! Não sei agora, como estão as coisas.
Bom...mas o fato é que, todos trabalhavam, estudavam (ou simplesmente iam a escola) e viviam em função do tão esperado sábado. O que tinha de especial esse dia?! Simples: Festa!!! Forró!! Jogo de futebol entre os times rivais, das comunidades locais (Bangú, Santos, Prainha, e não lembro mais do resto)! Particularmente, nunca gostei de futebol, apesar de ser vascaína (não sintam dó; eu amo). Principalmente dessas "peladas"de interior, que só dava muito era briga, discussões, palavrões (onde os nomes das santas mãezinhas viravam panos de chão), e mulheres dos "jogadores", perdendo a compostura! Provavelmente, ao longo do meu tempo por lá, só fui nos torneios, umas 3 vezes. Isso, porque tinha algum outro interesse envolvido (sem maldade). Mas senhores....meu fraco eram as festas! Vinda de uma família festeira e barulhenta, não teria como escapar dessa sina! Tava no gene o negócio de festança. Na época, eu com meus 14, já era a dona da casa, pois mamãe havia se evadido do cargo de mãe e esposa (pegou justa causa). Minha irmã continuava morando em Manaus (nunca mais voltou a morar no Careiro). Então...éramos eu e meu Guerreiro. Quando tinha alguma festa, em alguma comunidade (Bota Fogo, Bangú, Independente, Divino e/ou Vila), eu já procurava saber com minha prima,/amiga/irmã Gerdilane (morena linda, de olhos grandes, e cabelos cacheados de um negro invejável), se eles (tio Xico, irmão de meu pai, e pai dela), iriam à festa (seja qual fosse). Geralmente, a resposta era afirmativa. Dizia logo: tô dentro! e ouvia em resposta, um sorriso de canto de boca, que eu traduzia: como se eu já não soubesse!
E começavam os preparativos! Limpar casa (agora com uma animação fora do comum), jogar o penico (o conteúdo) na casinha, fazer a comida do jeito que o véio gostava, encher o vaso dele de flores, encher os baldes (70l cada um) de água. Aqui, abro um espaço pra descrever a cena: mão direita um balde amarelo, que comportava uns 30l...e na cabeça um panelão, que era a mesma medida. Caminhar 50m do pequeno pátio da cozinha, pra "cabeça" do barranco, e descer (vertiginosamente) 70m até o porto, que se constituía por um pequeno flutuante de uns 7m, onde embarcávamos e desembarcávamos, lavava roupas e louças, e ainda tomava banho. Encher todos os vasilhames, era ter que dar 4 voltas nesse percurso. Mas...pensar na noite dançante fazia a adrenalina subir, e tornar a tarefa mais leve e menos enfadonha.
Nunca fui menina de  vaidades...meu pai até ficava triste. Na época, eu me achava tão feia, e assustadora, que achava um desperdício fazer unhas (pra encher de terra?!), depilar pernas (quê isso?), fazer maquiagem (palhaçada!) ou qualquer outra coisa do gênero. Queria era dançar! Rir com os primos!
À noite, era mais divertido ainda (pra mim)...deixava pra falar pro meu pai que iria pra festa, na hora em que o primo Francimar (branquelo, cabeção, cabelo espetado) chegava pra me buscar. Aí, tinha uma sessão de impropéritos, da parte de meu pai, que durava 15min de relógio! Depois disso, ele abria o caixa (que era uma caixa), e me estendia algumas cédulas de dinheiro (nem lembro mais o nome, já que nosso dinheiro mudava de nome toda hora), e dizia: pra tomar seu refrigerante. Filha minha não anda sem dinheiro! (kkkkk) E vou estar esperando a senhora (ironia) a tal hora...se passar, o cinturão vai entrar nos eixos (nem cinturão ele tinha). Beijava ele..dizia que ele era o melhor pai do mundo (ele grunia nessa hora)...e me ia noite adentro. Acabava de me arrumar lá com a Gerd (mudava o cabelo de posição. Só)...ia-mos, pro barranco esperar o barco passar, pra pegar carona (Rubens Martins, Gravata, Andrade, Seledon, etc), ou ir de canoa, com os primos e amigos remando (Wilson, Julio Cézar, Paulo Cézar, Santos..etc). Na ida pra festa, era aquela bagunça...todos cantando, rindo, contando piadas (graças a Deus eu esqueci quais). A ordem era a seguinte: todos ficarem perto; os meninos tomarem conta das meninas; se algum engaçadinho se metesse a besta...os Guerreiros fariam jus ao nome; nada de ninguém no escuro. Ok. Topávamos tudo.
Chegávamos na festa...no auge. Pegava logo o Santos, e ia pra sede (uma casa "desparedada", onde a cabôcada arrastava o pé e balançava o esqueleto), depois ficávamos trocando os pares...mas tudo em família, ou no máximo, um amigo íntimo. Lá pelas tantas, quando povo já tinha tomado todas (diria que se esforçavam pra acabar com todas), estourava uma briguinha. Sempre tinha brigas! Era som de garrafa se quebrando na cabeça de alguém; eram gritos estridentes de mulheres; era eu e meus primos correndo no rumo da porta de saída! Eita que era um caos! A banda (as vezes de um homem só, teclado), parava de tocar, fazia-se aquele discurso de conciliação, e depois da situação acalmada, e os brigões se retirarem pro terreiro (se quisessem se matar, que fosse lá),o som recomeçava (Teixeira de Manaus! Panananam...Teixeira de Manaus! Ui). Subíamos meio ariscos...mas depois a coisa ia relaxando de novo! Nessas alturas, meus primos, já haviam esquecido as juras de protegerem as donzelas da família, e estavam azarando as donzelas de outras famílias. Eu e minhas primas, ficávamos dançando juntas, até que algum conhecido piedoso, viesse nos tirar daquele opróbrio. Uma vez, houve tantas brigas na sede, que minha família fez uma festa paralela no quintal (devíamos cobrar patente...nós criamos as festas com vários ambientes). Senhores...foi um sucesso!! kkkkkkkk....Lá pelas 5hs ....meu tio saía recolhendo os filhos e sobrinhos, pra rumarem pra casa.  Dependendo da distância...chegávamos em casa acompanhados do Sr. Sol! Pés pisoteados, caras amarrotadas, sono até na alma! Íamos dormir! Alguns..até bem tarde. Outros (como eu), iriam levantar 2hs depois de ter deitado. Meu pai gritando que queria café! Que se eu queria levar vida de boêmia (não sabia nem o que era isso) eu tinha que me garantir! Ordens do tipo: vai jogar meu penico (transbordante, diga-se de passagem), quero tal almoço (ele queria o mais demorado), pesa essa saca de açúcar (50k, que depois de pesado só apareciam 47k), corta limão pra fazer a caipirinha de tal freguês (o tal freguês nem lá aparecia)... e com a desculpa de ir cuidar do almoço, eu colocava o arroz ou o que fosse no fogo, me deitava ao lado do fogão (só um pouquinho...só pra descansar os olhos)...e dormia a sono solto. Acordava com os gritos dele: Acoooooorda meninaaaaaa!!! O arroz tá queimandoooooo!!!!!! Tu nunca mais pisa em uma festa na tua vida!!!!!! Eu quase via a espuma de raiva, ao redor de sua boca.
Dizia comigo mesma: Da próxima vez, eu volto mais cedo (promessas que eu não cumpria).
Na segunda, a vida recomeçava...e tudo seguia do mesmo jeito! Só no balanço do banzeiro...

A Liga da Justiça Interiorana

Eu e meus primos, estreitamos laços, quando eu e minha irmã fomos morar no Careiro.
Era delicioso esperar as férias, feriados, fins de semana, pra nos encontrarmos. Rolava muita brincadeira, muita briga, e muito tudo! Não tinha jogos eletrônicos nem nada disso...aliás, não tinha nem energia elétrica! Era na base da vela, lamparina, lampião e candeeiro! Mas quem precisava de jogos eletrônicos, se havia uma gama infindável do que fazer?! Naquela época, quem tinha TV em Manaus, já era bem de vida, e no Careiro, só os ricos tinham...pois cada um deles tinha um gerador de energia.
Num desses finais de semana da vida (dura vida), uma quantidade incontável de primos se reuniu em nosso "terreiro", pra brincarmos de manja pega, esconde, coca (eu sei que é cócoras...mas o blog é meu eu falo como quero), trepa e mais sabeseDeusoquê!!! Na onda dos superamigos, todos concordaram em ser um super-herói. Gritei (e esperniei horrores) que queria ser a mulher maravilha. Todas as meninas queriam...mas, eu ganhei na base do grito. A "liga da justiça" interiorana se espalhou pelos cajueiros e mangueiras que era fartura no quintal. Cada um fazendo algo de muitíssimo valor, pra salvar a terra. Resolvi que a mulher maravilha (eu), iria fazer compras (desde aquela época já lerê lerê), pra fazer almoço pros super amigos. Perguntei (só pra descarrego de consciência, pois já decidira o que faria), se poderia pegar umas folhas pra ser o dinheiro, e todos claro, concordaram. Vi, ao lado do galinheiro (a sala da justiça), um pé de pimenta doce, com folhas tão redondinhas e verdinhas, que quase acreditei que fossem dólares (na minha imaginação parecia). Comecei a colher algumas...e de repente (não mais que de repente), eu fiquei envolta, em uma nuvem de cabas de peixe (aquelas cabas amarelinhas que adoram café, mas não sei porquê raios o nome é caba de peixe). Havia arrancado a folha, onde na parte inferior, elas haviam feito sua casa. Imagina a ira das infelizes, para comigo...uma doce menina, magrela, loirinha, de olhos azuis estonteantes (eu posso me elogiar, o blog é meu). Senhores...que pena...minha beleza não as convenceu! Partiram para o ataque! Meu desespero era tão grande, que eu fiquei com medo de gritar e elas entrarem na minha boca e ferrarem meu estômago (!!!!!). Comecei a girar feito louca! E meus primos, vendo aquilo, acharam que a mulher maravilha, estava se transformando (era assim que a simples Diana, se transformava em mulher maravilha), para alguma missão. Até que, não aguentando mais a dor de um milhão de picadas (devem ter sido umas 20), espalhadas desde a cabeça até os pés, gritei desesperada! Foi quando caiu a ficha dos primos...e eles correram! Não senhores, não foi pra me ajudar, e sim pra fugirem das cabas! Me joguei no chão...e rolei de dor. Minha mãe, ao ouvir os gritos desesperados da "cria", se jogou pela porta da cozinha, em baixo (dava mais ou menos uns 2,5m de altura) e correu pra me acudir! Ela chorava mais que eu, ao ver a desgraceira que as cabas fizeram comigo. Naquele dia, a liga da justiça interiorana, se desintegrou, dada a covardia dos "super amigos" da onça! E a mulher maravilha, foi pro sal (era assim que eles tratavam picadas de caba no interior), sarar suas dores.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O quê que eu vou fazer com essa tal liberdade

Em meados de 86, voltei a morar com meus pais, no Careiro da Várzea. Meio (muito) a contra gosto.
Mamãe me (re) matriculou, em uma escola, já bastante conhecida minha: Escola Estadual Coronel Fiúza. Era a única escola estadual no município. Era um prédio de 10 salas de aula; 1 sala dos professores (mais um, corredor que sala); a diretoria (de quem fiquei intima na 8a); 2 banheiros pra ambos os gêneros (onde anos depois, tentei virar fumante dos cigarros, que "afanava" da taberna de meu pai);  1 pátio, onde lanchávamos um pão esfarelante e um kisuc de laranja; entre os corredores, uma área verde (que de verde só tinha 1 bananeira e mato); na entrada da escola, um jardim (1 pé de papoula vermelha) e uma área de hortas, que serviam pra aula de práticas agrícolas (como se alguém ali, já não nascesse sabendo lavourar); 1 biblioteca de poucos livros (li todos até os que não deveria), e onde me apaixonei por Hitler (já pedi perdão desse pecado)...e por fim, a...será que posso chamar um quadrado de cimento, já todo espocado de matos, de quadra,,?! ..mas era assim que era a quadra.
Não lembro o dia exato, mas calculo que fosse segunda-feira, entrei (pela milionésima vez) pelo portão...alguns me olhando com curiosidade, outros com certo desprezo (voltou,?)..enfim! Me dirigi ao último corredor, à ultima sala, de última categoria. Olhei a plaquinha, 5° B (a 5° A estudiosos e queridinhos), e quase visualizei "pretensos seriais killers"; respirei fundo, e mais fundo (senti cheiro de estrume de boi)...entrei. Entrei e já procurei a última cadeira do fundão, mas, meus diletos colegas já haviam tido a mesma idéia. Só me restava sentar na frente (abominação!!!)...quase de cara com os professores. 
Os dias foram passando...de forma preguiçosa, como em todos os interiores devem ser. Travei conhecimento (amizades não) com alguns de meus colegas (todos muito mais velhos), e sempre observava muito, tudo! a maioria fumava, falavra palavras de baixo calão, como se fosse música...e detestavam estudar. Peguei logo a "má fama" de queridinha das professoras, só porque fazia todos os deveres. Belo dia, lá pelo 4° tempo, Joana, uma moça bonitinha, que tinha pimenta malagueta ao invés de sangue nas veias, fala quase gritando: Ai não! Padre Higino (italiano, de belos e duros olhos azuis), eu não aguento! Chato demais a aula dele! - vira-se pra mim e solta: vamos fugir?! Lembro até hoje a sensação que senti: um soco no estômago! Meu lado sensato pensou: e se meu pai  descobrir,?, e se nos pegarem ?, e se , e se...e mais um milhão de e ses! Mas o lado insensato (sempre mais forte nos jovens), imaginou logo a má fama de queridinha descendo pelo ralo, e a fama de bad girl (tão ansiada), brilhando como neon! Olhei pela janela (a única coisa que me separava da tal LIBERDADE), e logo depois, os campos de gado do coronel Zezim Leôncio...e não me contive...aceitei o convite. Bem na hora em que uns 7 colegas (que iam a escola só pra fugir dos trabalhos braçais) já haviam pulado a janela, e Joana, a apimentada, me olhava com olhos inquiridores (pulas ou não?), decidi ceder à insensatez. Subi a janela com joelhos mais trêmulos, que vara verde na correnteza...e pulei. Quer dizer, o lado insensato pulou...sem medo de ser feliz...mas o lado sensato (pasmem, eu ainda tinha), se segurou com o braço direito...acho que na tentativa de me livrar de uma "roubada". Resultado: ralei o braço, caí de mau jeito numa pilha de tábuas (acredito que colocada ali pra facilitar a fuga dos fujões) bati o pandeiro e de quebra,  rasguei minha calça. Pulsação no estômago, braço sangrando, calças rasgada, olhos lacrimejantes e garganta ardendo, de conter o choro...foi nessa situação lamentável, que me arrastei, uns 10 metros, até a cerca (já préviamente furada) da extinta TELAMAZON (onde cada segundo de ligação, era um horror de dinheiro)...e ai sim...pude respirar os ares da tal LIBERDADE! Enganosa liberdade....pois quase morri do coração, ao ouvir a voz estrondosa (quase masculina) da diretora dn. Maria José Farias da Fonseca (sempre fazia rimas pouco elogiosas com seu nome). Não acreditei naquilo (entendo os senhores se também não me acreditarem)...achei que Deus estava estourando de rir da minha cara de paspalha, e com o dedo em riste na minha direção. Fechei os olhos...e fiquei esperando os gritos dela em reprimenda a nós, a qualquer momento (é pra isso que os pais de vocês se matam de trabalhar?)...os fujões, que se resumiam a mim e a Joana, pois o resto, havia pegado o beco.Literalmente o beco entre a escola e a TELAMAZON! Joana, já habituada às fugas, sei lá como, me tirou dali...até hoje me pergunto como (menina do olho junto!!!). Quando dei por mim, estava na ultima rua da Vila (só haviam 3)...livre...livre..!! Aspirei o ar...como se fosse a última vez...e como sou muito musical, pensei logo numa trilha sonora: alô mamãe...alô papai! Passei no vestibular! do Pinduca. Pra logo depois, cair na real. Eu estava em uma Vila de três ruas, que de qualquer ponto, daria pra ver a escola. E onde absolutamente todos se conheciam! Ir pra onde? 2 tabernas grandes: dn. Maria Augusta e Góes; 2 lanchonetes: dn. Maria Fiúza e sêu Josué e o flutuante do sêu Carlinhos. Senhores...absolutamente todos, tinham vínculos de sangue ou de amizade com a maléfica diretora! E aí senhores, depois desta triste constatação, liberei o choro que havia contido ao longo da fuga. Foi um choro baixinho (apesar de eu querer gritar), pois se fosse um pouquinho mais alto, a diretora ouviria da escola. E assim, vi minha tal LIBERDADE escorrendo pelos dedos...e fui me esgueirando até o barco escolar. Me encolhi no banco e recitei um mantra:. aula acaba logo! Sino toca logo! O qual repeti exaustivamente!
Depois dessa, não lembro de haver fugido outra vez. Quando a aula era entediante, me recolhia no meu mundinho imaginário...e o tempo voava. 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Gente!!!! Quê que é isso! Coisa mais complicada pra conseguir "fazer" um blog.
E olha que tive ajuda de minha fofa e linda, sobrinha Karine Guerreiro.
Mas acho, que agora estou caminhando em terra própria. Respirando o ar tecnológico desse lugar!Recentemente, em uma tarde chuvosa, me senti inspirada (e pressionada pelos amigos) a escrever umas linhas.  Me senti uma Jane Austin (adoro) dos trópicos! Ela, escrevia romances que não poderia viver....e eu, fatos (não romances) que já vivi e ainda viverei. Ela..extremamente lida ao longo dos séculos...eu, muita sorte de ser lida!!! Comparar-me a ela, faria com que seus ossos (se é que ainda há algum), se revirem na sepultura.