segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Não julgue um livro pela capa

Em 80, foi o ano que fomos morar, de fato e de verdade, no Careiro. Havíamos morado os 3 anos anteriores em Manaus, com tio Mário Bezerra (filho da prima do meu pai). Pra mim, foi um ano memorável! Lembro até hoje, o dia em que minha mãe foi fazer a matrícula "das meninas" (eu e minha irmã). Como eu era pequena, tudo parecia grande e lindo. E como sempre, darei aquela paradinha, pra descrever, o que e como era a Vila do Careiro a época: 3 ruas; A principal, de onde desembocava a escadaria principal da "cidade", que levava diretamente à igreja Católica (me perdoem os amigos católicos, mas não lembro qual o nome da santa, da qual a igreja leva o nome); por trás ficava a escola e a extinta TELAMAZON, do lado esquerdo o Banco do Brasil e Correios e do lado direito, a extinta COSAMA., a sede do Careiro Esporte, e bem no centro de tudo, aquilo que deveria ser uma praça (parecia um campo de gado...só que sem capim). Minha mãe toda orgulhosa, me levava (exibia, mais exatamente) pela mão, e a cada 10 passos, parávamos pra ela me apresentar a alguém. Eu extremamente tímida (até hoje...sina), dizia bom dia, ou tomava benção (era assim no passado), olhando pro pé. E assim fomos andando e parando, até chegarmos na escola. Paramos bem na frente do mastro das bandeiras do Amazonas e do Brasil, onde logo acima, estava a placa com o nome da escola: Escola Coronel Fiúza (na época, não tinha estadual não) e esperamos o sêu Russo (não sei até hoje se era nome ou apelido), abrir o portão. Ainda nem havíamos entrado, quando ouvimos (até hoje retine aquela voz em meu ouvido) Dn. Maria José falar alto (como se não pudéssemos ouvi-la): Escute Áurea (a melhor professora de matemática do mundo), aquilo é a Maria que tá entrando? Mamãe nunca soube disfarçar seus sentimentos, e arregalou os olhos (azul piscina...morra de inveja Maria José!!!!), já elaborando uma resposta, como se a pergunta tivesse sido pra ela.  Mas ...na última hora, mordeu o lábio inferior, e se conteve (muito  a contra gosto). Deu bom dia, e foi logo me empurrando pra perto da diretora (aff! quase senti cheiro de enxofre). Não levantei a cabeça pra olha-la...mas ela se encarregou de fazê-lo. Pegou meu queixo e suspendeu; olhou nos meus olhos (queria ter a visão desintegradora), e quase com desprezo, disse que era bonitinha. Ódio cruel me foi plantado na alma, por aquela .......cidadã brasileira. Consegui, mesmo criança, ler desprezo por mim e minha família, nos olhos e atitudes dela. Passado primeiro momento tenso, mamãe começou a dar as informações necessárias, pra matrícula, das meninas...e eu, curiosa pra conhecer a escola. Minha irmã faria a 3a e eu a 1a série. A professora dela, estava na escola naquele momento, e fomos vê-la na sala de aula...assim, aproveitei pra matar a curiosidade de conhecer previamente, minha escola querida (ai ai). Entramos na sala, e uma moça esbelta, jovem, branca, de olhos expressivos, nariz sardento, e cabelos ruivos encaracolados, levantou a cabeça pra ver quem entrava.  sorriu. Iluminou a sala. Disse: me chamo Ariadne. Me encantei com ela! Achei ela a personificação dos meus sonhos de aluna. Como todo irmão que se preze, eu interiormente, queria as melhores coisas pra mim...então achei que, se a dela era linda, a minha deveria ser ainda mais (ela não estava na escola naquele dia)! Cheguei a salivar de emoção!
Fomos embora pra casa, onde contei pra minha irmã, tudo que havia acontecido. Como eu odiei a diretora, ela já até se via virando melhor amiga da talsinha (kkkkkkkk)...e eu, ansiando pelo primeiro dia de aula, só pra esfregar na cara dela, a minha professora, mais linda que a dela. Chegou o grande dia! Jaleco branco, saia de pregas azul tergal (herdada da prima Ariane), meias soquetes e a afamada conga nos pés!....No barco da escola (Amora Filho), todos nos olhavam como se fossemos ETs. Minha timidez alcançou o ponto alto senhores! Tive que ter muito alto controle, pra subir no barco, inves de me jogar na água, e morrer! De relance, olhei ao redor (curiosidade vence timidez), e vi umas moças morenas, (Lígia, Rubenita...e outras que não lembro o nome) cabelos longos até a altura da cintura, olhos risonhos, que nos olhavam com ares amigáveis (ou seria dó?).  Subimos as escadarias da vila, e rumamos pra escola. Nunca senti tanto desejo  de voltar pra casa na vida, como naquele momento. Apesar de estar de cabeça baixa (o queixo encostava no tórax), eu sentia, que por onde passávamos, todos nos olhavam....medo absurdo!!! Ok. Chegou o grande momento, que esperei ansiosamente: esfregar minha bela professora na cara da minha irmã, e imaginá-la arrasada por isso. Entramos na escola, e esperamos as respectivas professoras. Senhores...foi nessa hora, que meu céu "fechou o tempo"...vi uma senhora, ainda jovem, magrinha, cabelo curtíssimo, dentes afastados, voz sibilada (parecia a Celeste do Castelo Rá-Ti-Bum), morena....parar na minha frente e perguntar: Então...você é a novata.?! Sou a professora Concebida. Sua professora....Quis morrer pela segunda vez naquele dia! Nem tive coragem de olhar pra minha irmã...pois já imaginava seu sorriso irônico, que sem palavras me diria: realmente...liiiindaaa tua professora!!! As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, de forma descontrolada e incontida. Fui humilhada. Pensei: tenho certeza que a diretora escolheu a professora mais feia, só porque sabia que eu iria estudar na 1a série! kkkkkkk....nos anos seguintes, a professora "feia" e eu, nos tornamos amigas..se é que se pode chamar de amizade a relação aluna/professora. E ela, ainda me aperreando por tê-la rejeitado. Eu, se pudesse voltar no tempo, e escolher, não trocaria. Ela era o máximo!

2 comentários:

  1. ha não foi tão ruin assim ter rejeitado a professora feia o ruins foi ter conhecido ela melhor e saber q ela era uma boa pessoa kkkkkkk

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